Monday, August 20, 2007

Flanêur do amor

A uma passante

A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntuosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fina.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,
A doçura que envolve e o prazer que assassina.

Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! Tarde demais! Nunca talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!



CHARLES BAUDELAIRE

Saturday, August 18, 2007

O Lobo na Lapa

Quando fui ao show do Lobão no Vivo Rio, achei que sua performance seria insuperável. Me enganei. O show do Circo Voador, na última sexta-feira, foi absolutamente delirante. Lobão cantou Beatles, Raul Seixas e incluiu ótimas versões de músicas como Vida bandida e Vida louca vida, que ganhou uma roupagem soul. Até Mal Nenhum (uma de minhas prediletas), para minha surpresa, entrou na canja. O show teve de tudo. O destaque vai para Corações Psicodélicos e a empolgação de uma mulher que sentou no colo do grande lobo e tirou o sutiã, perdendo qualquer “complexo de decência”! Lobão, que já deve ter visto de tudo nesta vida, parecia não acreditar no que estava acontecendo. A partir daí, foi um festival de gente subindo no palco e cantando junto com ele. O cantor estava no auge de sua simpatia, super engraçado e brincalhão. Quem esteve lá, tenho certeza que nao esquecerá. Fiquei de cara para o palco!
É, Lobão... gosto muito do seu jeito rock´n roll meio nonsense!

É ver para crer!

Thursday, August 09, 2007

Coisas de pai...

Por um filme chamado Joanna (com 2 n´s mesmo), não pude ter a honra de ter uma música dos Beatles com meu nome...fazer o quê, né? Bom, meu pai viu este filme de 1968 e adorou a personagem. Desde então, tenho procurado este maldito filme mas não acho. A única coisa que sei é que é com o Donald Sutherland, graças ao IMDB. Sabe-se lá porque, meu pai, uma pessoa que não preserva uma boa memória (até pouco tempo ele achava que eu tinha 23 anos), tem a música na cabeça. Ele costumava cantarolar os versos, enquanto dirigia. Acabei baixando e me apaixonei. Infelizmente, não sei postar links de música, mas a letra é bonitinha. Sei muito vagamente o enredo de Joanna, mas sempre que a escuto imagino cenas do filme...vai entender....

I´ll catch the sun (Rod Mckuen)


I'll catch the sun
and never give it back again.
I'll catch the sun
and keep it for my own
And in a world
Where no one understands
I'll take my outstretched hand
and offer it, to anyone

Who comes along
and tells me he's in need of love
in need of hope
or maybe just a friend.
Perhaps in time,
I'll even share my sun
with that new anyone
to whom I gave my hand.

Perhaps in time,
I'll even share my sun
with that new anyone
to whom I gave my hand.

Tuesday, August 07, 2007

Um belo clichê...


Não conhecia o trabalho de François Ozon, quando fui assistir O tempo que resta. Gostei tanto que devo ter ido umas 4 vezes no Cine Arte Uff.O filme é lindíssimo. Li muitas críticas acusando o diretor de tratar a morte de forma clichê. Bom, a morte é um clichê mesmo. O que passaria na cabeça destes críticos se estivessem vivendo seus últimos dias?? Provavelmente, o mesmo que passaria na cabeça de todos nós. O que poderíamos ter feito e que não fizemos, o que fizemos e nos arrependemos e o que ainda nos resta.
O filme é basicamente isto. Roman é um fotógrafo de moda bem–sucedido e arrogante que descobre que está com um câncer incurável. Nenhuma esperança lhe é dada. Isto tudo logo no início do filme. Não há nenhuma batalha a ser travada, nenhum amor capaz de oferecer redenção, nenhum destes enredos hollywodianos....Roman está condenado. Ponto. E agora? O que Ozon faz é trabalhar com os espaços que separam o personagem de todos aqueles com quem ele se relaciona ao longo do filme. Por diversas vezes, o confronto é consigo mesmo na infância. Uma das cenas mais bonitas, porém, é quando o fotógrafo se reconcilia com a irmã, com quem vivia em pé de guerra. Claire está em um parque com os filhos, quando recebe a ligação do irmão. Roman pede desculpas e diz que gostaria de vê-la, “mas não hoje”. Claire se emociona e agradece o gesto. A câmera se distancia e avistamos Roman atrás de uma árvore, ao telefone. É o espaço intransponível entre os dois.
Símbolos de vida e morte permeiam a trajetória do personagem, a repousar na penumbra de uma morte anunciada. O filho que ele nunca verá, o sobrinho recém-nascido e a avó, a única a quem ele confidencia a doença com a seguinte justificativa “sei que você me entenderá, pois também morrerá em breve”. Também é certeiro o simbolismo da profissão de Roman no filme. É interessante notar a mudança de perspectiva no olhar do fotógrafo, antes dirigido ao glamour. As imagens que ele de alguma forma quer “levar” consigo são, na melhor alusão a Roland Barthes e sua Câmera Clara,“vestígios” daqueles que ele ama e uma tentativa de eternizar momentos que não mais se repetirão.
O final, que obviamente não é nenhuma surpresa, evoca Morte em Veneza com uma belíssima fotografia de uma morte ao pôr do sol. Uma estranha calmaria navega pelo filme. Quem está do outro lado da tela não sente aflição, nem mesmo angústia. Apenas assistimos a uma doce melancolia e a uma dor resignada. É a dor da morte, do irremediável que dispensa a angústia, pois ela só habita na possibilidade e na dúvida. E isto não é um filme de amor...
A história é curta, assim como o tempo do personagem. Eu saí do cinema com o título na cabeça.O tempo que resta...Pra quê? Somos todos iguais a Roman desde a hora em que nascemos. Estamos todos aproveitando o tempo que nos resta, pois já que tudo é um grande clichê, nunca se sabe o dia de amanhã. CARPE DIEM.